segunda-feira, 24 de novembro de 2008

DICIONÁRIO POR CECÍLIA MEIRELES

" Não sei se muita gente haverá reparado nisso - mas o Dicionário é um dos livros mais poéticos, senão mesmo o mais poético dos livros. O Dicionário tem dentro de si o universo completo.
Logo que uma noção humana toma forma de palavra - que é o que dá existência às noções - vai habitar o Diconário. As noções velhas vão ficando, com seus sestros de gente antiga, suas rugas, seus vestidos fora de moda; as noções novas vão chegando, com suas petulâncias, seus arrebiques, às vezes, sua rusticidade, sua grosseira. E tudo se vai arrumando direitinho, não pela ordem de chegada, como os candidatos a lugares nos ônibus, mas pela ordem alfabética, como nas listas de pessoas importantes, quando não se quer magoar ninguém...
O Dicionário responde a todas as curiosidades, e tem caminhos para todas as filosofias. Vemos as famílias de palavras longas, acomodadas na sua semelhança, - e de repente os vizinhos tão diversos! Nem sempre elegante decentes, - mas obedecendo à lei das letras, cabalística como a dos números... O Dicionário explica a alma dos vocábulos: a sua hereditariedade e as suas mutações. E as suas surpresas de palavras que nunca se tinham visto nem ouvido! Raridades, horrores, maravilhas... Tudo isto num Dicionário barato - porque os outros têm feito exemplos, frases que se podem decorar, para empregar nos artigos ou nas conversas eruditas, e assombrar os ouvintes e leitores..."
MEIRELES, Cecília. Obra em prosa. Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 1998.

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