segunda-feira, 29 de setembro de 2008

SUBSÍDIOS TEÓRICOS NA ALFABETIZAÇÃO

As pesquisas sobre o desenvolvimento intelectual da criança e de como os processos afetivos interferem em seu ensino-aprendizagem mudaram o rumo também das pesquisas sobre alfabetização.


Emília Ferrero se tornou referência no campo educacional. Suas experiências deram origem à pesquisa intitulada "Psicogênese do Sistema de Escrita" e revelou dados até então desconhecidos ou desprezados sobre como a criança concebe o sistema de escrita.


A descontextualização de suas pesquisas têm gerado equívocos no meio educacional, pois muitos a utilizam como se fosse um método de alfabetização. Na verdade, as pesquisas de Emília nos oferecem subsídos para a refelxão de um trabalho pedagógico, levando em conta o desenvolvimento cognitivo da criança.

A seguir um resumo das conclusões nas pesquisas de Emília Ferrero:

O processo de construção da escrita

Na fase 1, início dessa construção, as tentativas das crianças dão-se no sentido da reprodução dos traços básicos da escrita com que elas se deparam no cotidiano. O que vale é a intenção, pois, embora o traçado seja semelhante, cada um "lê" em seus rabiscos aquilo que quis escrever. Desta maneira, cada um só pode interpretar a sua própria escrita, e não a dos outros. Nesta fase, a criança elabora a hipótese de que a escrita dos nomes é proporcional ao tamanho do objeto ou ser a que está se referindo.

Na fase 2, a hipótese central é de que para ler coisas diferentes é preciso usar formas diferentes. A criança procura combinar de várias maneiras as poucas formas de letras que é capaz de reproduzir.Nesta fase, ao tentar escrever, a criança respeita duas exigências básicas: a quantidade de letras (nunca inferior a três) e a variedade entre elas, (não podem ser repetidas).

Na fase 3, são feitas tentativas de dar um valor sonoro a cada uma das letras que compõem a palavra. Surge a chamada hipótese silábica, isto é, cada grafia traçada corresponde a uma sílaba pronunciada, podendo ser usadas letras ou outro tipo de grafia. Há, neste momento, um conflito entre a hipótese silábica e a quantidade mínima de letras exigida para que a escrita possa ser lida.A criança, neste nível, trabalhando com a hipótese silábica, precisa usar duas formas gráficas para escrever palavras com duas sílabas, o que vai de encontro às suas idéias iniciais de que são necessários, pelo menos três caracteres. Este conflito a faz caminhar para outra fase.

Na fase 4 ocorre, então a transição da hipótese silábica para a alfabética. O conflito que se estabeleceu - entre uma exigência interna da própria criança ( o número mínimo de grafias ) e a realidade das formas que o meio lhe oferece, faz com que ela procure soluções.Ela, então, começa a perceber que escrever é representar progressivamente as partes sonoras das palavras, ainda que não o faça corretamente.

Na fase 5, finalmente, é atingido o estágio da escrita alfabética, pela compreensão de que a cada um dos caracteres da escrita corresponde valores menores que a sílaba, e que uma palavra, se tiver duas sílabas, exigindo, portanto, dois movimentos para ser pronunciada, necessitará mais do que duas letras para ser escrita e a existência de uma regra produtiva que lhes permite, a partir desses elementos simples, formar a representação de inúmeras sílabas, mesmo aquelas sobre as quais não se tenham exercitado.

Fonte na Internet:http://www.centrorefeducacional.pro.br/contribu.html

ANINHA E SUAS PEDRAS

Não te deixes destruir...
Ajuntando novas pedras e construindo novos poemas.
Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha um poema.
E viverás no coração dos jovens e na memória das gerações que hão de vir.
Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas e não entraves seu uso aos que têm sede.
Cora Coralina (Outubro, 1981)

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

QUEM É VOCÊ EM FRENTE AO ESPELHO?


POESIA EM NOSSA VIDA

O SILÊNCIO

Convivência entre o poeta e o leitor, só no silêncio da leitura a sós. A sós, os dois. Isto é, livro e leitor. Este não quer saber de terceiros, não quer que interpretem, que cantem, que dancem um poema. O verdadeiro amador de poemas ama em silêncio...

Mario Quintana - A vaca e o hipogrifo

BIBLIOGRAFIA INTERESSANTE

ARANTES, U.A. Afetividade na escola: alternativas teóricas e práticas / Vários autores.
São Paulo: Summus, 2003.


DAMASIO, A. O erro de Descartes: emoção, razão e cérebro humano. São Paulo:
Companhia das Letras, 1996.

DANTAS, Helousa. A infância da razão. Uma introdução à psicologia da inteligência de
Henry Wallon.
São Paulo: Manole, 1990.


GALVÃO, Isabel. Wallon: Uma concepção dialética do pensamento infantil. Petrópolis:
Vozes, 1995.

GOLSE, B. O desempenho afetivo e intelectual da criança. Porto Alegre: Artmed, 1998.


MAFESSOLI, Michel. Elogio da razão sensível. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1998.


OLIVEIRA, M. K. O problema a afetividade em Vigotsky. In: Dela la Taille, Piaget,
Vigotsky e Wallon: Teorias psicogenéticas em discussão
. São Paulo: Summus, 1992.


PIAGET, Jean. Para onde vai a educação? Rio de Janeiro, Olympio – Unesco, 1973.


RESTREPO, L.C. El derecho la ternura. Bogotá: Ed. Aranjo: 1995.

VYGOTSKY, L.S. Pensamento e linguagem. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1989.

AFETIVIDADE E LETRAMENTO

O processo de ensino-aprendizagem durante muito foi centrado na transmissão de conhecimentos e na relação de poder do professor sobre o aluno, desconsiderando o aluno como sujeito neste processo.
Pesquisadores como Lev Semenovich Vygotsky, Jean Piaget e Henri Wallon lançaram uma nova luz sobre as discussões referentes ao processo ensino-aprendizagem, quando colocaram o sujeito no centro do mesmo. Suas pesquisas indicavam a importância dos processos afetivos no desenvolvimento cognitivo da criança.
Do ponto de vista psicanalítico, entende-se afetividade como um conjunto de fenômenos psíquicos manifestados sob a forma de emoções ou sentimentos e acompanhados da impressão de prazer ou dor, satisfação ou insatisfação, agrado ou desagrado, alegria ou tristeza.
No entanto, a sociedade atual alimenta um idéia equivocada de que afetividade está relacionada ao "gostar de" ou "não gostar" de algo ou alguém, reduzindo a importância de outras emoções no nosso cotidiano.
As emoções estão presentes em nossa formação enquanto sujeitos e possibilitam a ampliação de nosso espectro cultural. Resistir a algo, confrontar indicam expressões do ser humano na interação com o mundo que vive. Neste sentido, todas as emoções são fundamentais no desenvolvimento intelectual de uma criança.
Mas o que isso tem a ver com a escola?
Durante muito tempo a escola alimentou a dicotomia entre saber (objetivo) e o sentir (subjetivo), desprezando as reais possibilidades do desenvolvimento cognitivo se ampliar além do aprendizado mecânico ao qual a criança era submetida, classificando-a entre os que "aprendiam" e os que "não aprendiam" daquela forma.
Atualmente, temos a possibilidade de explorar alternativas diversas, focalizando sempre a criança como o centro do processo de ensino-aprendizagem e considerando toda sua individualidade.
O letramento se dá no decorrer da vida através da experiência pessoal do ser humano. Toda a bagagem cultural adquirida propicia a formação de sua identidade. Partindo desta perspectiva, o letramento é um conceito impregnado de individualidade, visto que cada ser humano vive imerso a práticas sociais diversas e interage afetivamente em cada uma delas.
Letramento e afetividade têm uma relação intrínseca. Diríamos mais, indissociável. Não é possível letrar-se em meio a ausência de sentimentos. As motivações pessoais conduzem as práticas sociais.
O grande desafio da escola é desfazer a dicotomia entre saber e sentir e incentivar uma postura do letrar com afetividade.

POESIA EM NOSSA VIDA

A ARTE DE LER

O leitor que mais admiro é aquele que não chegou até a presente linha. Neste momento já interrompeu a leitura e está continuando a viagem por conta própria.

Mario Quintana

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Alfabetização ou letramento?

Nos dias atuais é comum ouvir as expressões "alfabetização" e "letramento" no meio acadêmico para se referir ao processo de aprendizagem da língua escrita. Alfabetização no sentido de se aprender a técnica da escrita em si e letramento para se referir a aquisição de competências para fazer uso de práticas sociais de escrita, focalizando os aspectos sócio-culturais de uma sociedade.
Num sentido mais amplo, letramento é um processo que vai muito além da aquisição das ferramentas da escrita, exigindo uma compreensão das práticas sociais de escrita no contexto do aluno.
A ampliação do conceito nos traz um salto qualitativo na forma de aprender a "escrever", visto que a técnica não mais é colocada no centro da apredizagem, mas o uso social da escrita dentro de contextos específicos.
Ao permitir que o sujeito interprete, divirta-se, seduza, sistematize, confronte, induza, documente, informe, oriente-se, reivindique, e garanta a sua memória, o efetivo uso da escrita garante-lhe uma condição diferenciada na sua relação com o mundo, um estado não necessariamente conquistado por aquele que apenas domina o código (Soares, 1998).
Obviamente, a técnica é necessária, porém o fundamental é que o sujeito compreenda que sua relação com o mundo escrito vai muito além da decifração de códigos. Seu vínculo afetivo com as práticas sociais de escrita colaboram para o efetivo exercício de sua individualidade dentro de uma sociedade.
Enquanto a técnica de escrita pode levar um curto tempo para se aprender, o letramento se faz no decorrer de uma vida, visto que o ser humano aprende o tempo todo e as práticas sociais vão se diversificando.
O letramento não é igual para todos, pois está vinculado a formação ética e estética do aluno. Sua competência de fazer uso de práticas sociais vai sendo ampliada na medida em que acumula experiências e constrói conhecimentos. Suas necessidades são colocadas em foco e todas as ferramentas que aprendeu durante sua vida são utilizadas para resolver situações de seu contexto.